A economista e pesquisadora do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Cristiane Soares, defendeu a criação de políticas afirmativas focalizadas para reduzir a desigualdade entre homens e mulheres, durante evento em comemoração ao Dia Internacional da Mulher, promovido pelo Comitê Pró-Equidade de Gênero e Raça da Real Grandeza, no dia 26 de março, no auditório do edifício-sede da entidade.
Cristiane Soares deu início à palestra apresentando os principais índices sintéticos internacionais e as dimensões adotadas para tratar da questão do desenvolvimento social, do empoderamento econômico das mulheres e do quadro de desigualdade entre homens e mulheres, brancos e negros no Brasil.
Segundo a economista, que atua na Coordenação de População e Indicadores Sociais do IBGE e trabalha nas temáticas de gênero, índices de desenvolvimento social, mercado de trabalho, educação, desigualdade e pobreza, o uso de indicadores sintéticos nos relatórios sociais ganhou visibilidade em 1990, quando a Organização das Nações Unidas (ONU) passou a divulgar o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) dos países. O indicador leva em conta a renda (PIB per capita), saúde (expectativa de vida ao nascer) e educação (taxa de alfabetização de adultos e matrículas no ensino fundamental, médio e superior), deixando de lado aspectos importantes como as desigualdades regionais, a desigualdade entre homens e mulheres e outros grupos populacionais.
Para mensurar as diferenças no desenvolvimento entre homens e mulheres, a ONU criou índices de gênero internacionais, como o Gender Inequality Index (GII). Criado para ser uma medida de equidade de gênero, o GII é calculado a partir de três dimensões: saúde, reprodutiva, empoderamento e participação no mercado de trabalho.
Segundo a pesquisadora, o Brasil ocupou a 80ª posição no GII em 2011, posição inferior a de países da América Latina como o Chile (44ª), Argentina (45ª) e Uruguai (48ª). Este índice é composto de cinco indicadores: mortalidade materna, taxa de fecundidade na adolescência, população com pelo menos educação secundária, distribuição dos assentos no parlamento entre homens e mulheres e taxa de participação no mercado de trabalho.
Outro índice bastante conhecido é o Global Gender Gap Index (CGI) divulgado pelo Fórum Econômico Mundial em 2006. O indicador é calculado a partir de 14 indicadores divididos em quatro dimensões: participação econômica e oportunidade (5); educação (4); saúde (2) e empoderamento político (3). O Brasil atingiu sua melhor posição no CGI em 2012, ocupando a 62ª posição. Para Cristiane Soares, o aumento do índice é resultado da melhora nas dimensões de educação e de empoderamento político, como o percentual de mulheres em cargos ministeriais que passou de 7% para 27%.
O CASO BRASILEIRO
Para analisar os indicadores de avanço social e empoderamento econômico das mulheres para o Brasil e Grandes Regiões, Cristiane Soares criou os Índice de Desenvolvimento de Gênero (IDG) e o Índice de Desenvolvimento Social (IDSgen), ambos calculados com base nos microdados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios( 2006, 2009 e 2011).
O IDG, índice que avalia a evolução do empoderamento das mulheres, apresentou maior avanço em relação ao indicador de escolaridade. A proporção de mulheres com ensino superior supera o dos homens em quase 7 pontos percentuais, aumentando a distância que favorece as mulheres. Entre 2006 e 2011, o IDSgen mostrou que o país teve um avanço nos indicadores que compõem o índice, como as dimensões de saneamento, rendimento, escolaridade e condições de trabalho. As mulheres se encontram num patamar de desenvolvimento social relativamente inferior (o IDSgen das Mulheres passou de 0,654 para 0,693) e os homens apresentaram um nível de desenvolvimento médio alto.
Segundo Cristiane, o resultado mais baixo para as mulheres foi em grande medida influenciado pela
dimensão de rendimento, onde 49,6% das mulheres têm rendimento inferior a um salário mínimo. Quando se considera as regiões Norte e Nordeste, este percentual chega a 60%. Além disso, há uma discrepância expressiva dos índices entre as regiões. Em 2011, as mulheres da região Norte tinham um IDSgen de 0,535, enquanto na região Sudeste o valor era 0,791.
Em relação às desigualdades raciais no contexto da desigualdade de gênero, a desigualdade de gênero entre brancos e negros teve um aumento nos indicadores de participação no mercado de trabalho e de escolaridade entre 2006 e 2011. Segundo a pesquisadora, a combinação desse indicador de escolaridade com o rendimento mostra que apesar das mulheres ocupadas serem mais escolarizadas, esse resultado não se configura nas características de rendimento.
Cristiane Soares reconhece que o Brasil avançou no processo de desenvolvimento econômico nos índices sintéticos de gênero internacionais e nacionais, seja no campo social quanto naquele relativo ao empoderamento político e econômico. Entretanto, estes avanços não foram suficientes para superar um quadro histórico de desigualdades regionais, de cor ou raça e de gênero. “O avanço social das mulheres e o empoderamento econômico ocorrem de forma lenta no país. A criação de políticas afirmativas mais focalizadas pode ser o caminho para reduzir esse gap entre homens e mulheres; brancos e negros”, conclui a economista.
TEATRO
Para descontrair a platéia, o grupo de teatro Real em Cena apresentou a peça “Com a palavra, as mulheres”. O espetáculo conta a história de cinco mulheres que freqüentam um grupo de ajuda para tratar de questões do dia a dia, como a dupla jornada, a importância da força de trabalho feminina na renda familiar, e a violência doméstica. A Coordenadora do Comitê Pró-Equidade, Luiza Ferreira, agradeceu a participação do grupo, formado pelos atores Sônia Borba, Walter Chavarry, Fátima Caruso, Joel Ribeiro, Fátima Areias e das atrizes convidadas, Andrea Borda D’ água e Aline Carrosino.
(27/03/2013)