O ciclo de subida dos juros chegou ao fim?
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Durante o segundo semestre de 2023, no cenário internacional, foi possível perceber que vem tendo êxito o mandato dual do Federal Reserve (FED) – o banco central dos Estados Unidos) – de manter a estabilidade de preços enquanto preserva, na medida do possível, a atividade econômica.
Alguns fatores ajudaram o FED a trazer a meta de inflação para mais próximo do seu alvo (2% a.a.), tais como: a reversão dos choques nas cadeias de oferta1, com a reabertura da economia pós pandemia, que controlou a inflação de bens e a elevação feita pelo FED na taxa básica de juros americana, assim como a subida dos juros com vencimentos longos. Juntos, esses fatores trouxeram aperto nas condições financeiras2, ajudando no controle da inflação.
Contribuíram para afastar a possibilidade de recessão em 2023, o estoque de poupança das famílias, o de casas não finalizadas, assim como a alta proporção de hipotecas com taxas fixas, que reduziram a velocidade de repasse da política monetária, especialmente no mercado imobiliário.
Nesse sentido, o segundo semestre de 2023 foi marcado pela resposta positiva dos ativos de risco aos dados de atividade econômica, com seus respectivos preços sendo revistos sob a ótica da Política Monetária. Com alta volatilidade nos ativos de renda fixa americano, em especial as treasuries, tendo a T10 (título de dívida do governo americano de 10 anos) atingido taxas não vistas desde a crise de 2008, a posterior e veloz queda das taxas da curva de juros, representada pela precificação das treasuries de diversas maturidades, causou grande impacto nos mercados.
o segundo semestre de 2023 foi marcado pela resposta positiva dos ativos de risco aos dados
de atividade econômica, com seus respectivos preços
sendo revistos sob a ótica da
Política Monetária
Em resposta a esse movimento da curva de juros americana, houve uma subida nas bolsas, desvalorização do Dólar e uma redução nos spreads de crédito. Com isso, o anto terminou com a sinalização do FED de que o ciclo de subida dos juros chegou ao fim e a discussão passa a ser a possibilidade de cortes na taxa básica americana durante 2024.
Já quanto ao cenário doméstico, durante o segundo semestre piorou a situação fiscal, que fechou o ano com um déficit primário de R$114,5 bilhões. Nesse contexto, começa o debate da revisão da meta de resultado primário de 2024 de 0% para -0,75% do PIB (déficit), podendo ser maior do que isso, tendo em vista que se trata de um ano com eleições municipais.
Por fim, sobre o combate à inflação e suas expectativas, o Banco Central do Brasil (BCB) conseguiu fechar o ano de 2023 com a inflação dentro do intervalo superior da meta, em 4,62%, apesar de o ano ter começado com previsões pessimistas para o indicador. Com o passar dos meses, mesmo com alguns solavancos, as expectativas ganharam um tom mais positivo, auxiliado pela queda generalizada no preço das commodities – por exemplo, petróleo, grãos e carne vermelha – pela desvalorização do dólar mundialmente, incluindo em relação ao Real e, assim, 2023 fechou dentro da meta. Para 2024, as previsões iniciais estão bem otimistas, com expectativas abaixo de 4%. Algo a se acompanhar de perto e, caso se concretize, seria um passo importante para a continuação da queda dos juros e, consequentemente, para uma provável apreciação dos ativos de risco brasileiros.
1 Medida pelo GSCPI Index do FED de Nova Iorque.
2 Medida pelo NFCI