Doutora em Educação e mestre em Gerontologia, Wanda Patrocínio, destaca a importância da educação para entender o envelhecimento como uma fase natural da vida
O dia 21 de setembro é dedicado à conscientização da Doença de Alzheimer, doença neurodegenerativa que leva à perda de memória. Em entrevista ao Conexão Saúde, a pedagoga, mestre em Gerontologia e doutora em Educação pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Wanda Patrocínio, fala sobre a importância da qualidade de vida na longevidade e os benefícios dos exercícios cognitivos e atividades de memória para um envelhecimento saudável.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) diz que o mundo está falhando no combate à demência, traçando um cenário de crescimento da doença em mais de 150%, até 2050. Segundo Wanda Patrocínio, os impactos da pandemia nas pessoas idosas, grupo considerado mais vulnerável durante o período mais restritivo da disseminação do novo Coronavírus, trouxe à tona a questão da velhice e como o processo de envelhecimento, em alguns casos, pode afetar a saúde mental. “Se a pessoa não compreende o processo de envelhecer como algo natural, pode passar por alguns transtornos, insatisfações e desestímulos e a pandemia revelou muito isso”, afirma.
Na avaliação da pedagoga, a velhice deve ser encarada como o começo de uma nova etapa na vida de cada indivíduo. Porém, ela destaca que é preciso não esquecer que a qualidade de vida é um dos maiores desafios da longevidade. “O meu trabalho segue a linha da educação para a longevidade, com mais saúde e equilíbrio. Por meio do trabalho de reflexão, é possível abordar a questão da velhice e desenvolver um programa de educação para o envelhecimento com mais qualidade”, afirma a educadora, que conta com o apoio de uma rede profissional, com formação teórica e prática abrangente na área de arte, educação, gerontologia e atividades terapêuticas.
O desafio é compreender como se pode transformar a velhice na melhor fase da vida de cada um. Para Wanda Patrocinio, tudo começa com um trabalho de conscientização sobre o processo de envelhecimento, passando pelas descobertas, incapacidades e perdas. É preciso, segundo ela, esclarecer os fatores de risco reconhecidos para a demência, genéticos e hereditários e o que pode ser feito para melhorar o estilo de vida da pessoa, proporcionando melhor qualidade de vida, por meio de atividade física, novas formas de relacionamento para ampliar as redes de relações e estímulos cognitivos.
É um trabalho multidisciplinar: a parte clínica com os remédios e a parte comportamental com atividades para estimular o funcionamento da memória em idosos com comprometimento cognitivo e orientação familiar, sem abrir mão de três elementos fundamentais: amor, carinho e afeto
Apesar do cenário descrito pela OMS, Wanda acredita que é preciso mostrar possibilidades e não só os medos, aprendendo a lidar com a nova realidade das pessoas com diagnostico de Alzheimer. Com o avançar da doença, as pessoas que convivem com o paciente precisam entender o que é a doença e como ajudá-lo para retardar o processo. “É um trabalho multidisciplinar: a parte clínica com os remédios e a parte comportamental com atividades para estimular o funcionamento da memória em idosos com comprometimento cognitivo e orientação familiar, sem abrir mão de três elementos fundamentais: amor, carinho e afeto”.
Idealizadora e mantenedora da empresa da GeroVida – Arte, Educação e Vida Plena, com foco na longevidade com equilíbrio, a profissional é uma das professoras da Oficina 6.0 do projeto de Prevenção e Promoção da Saúde Mental da Real Grandeza. A Oficina, voltada para a população com idade superior a 60 anos, trabalha com uma metodologia participativa, com base no método do filósofo e educador Paulo Freire, que é a pedagogia dialógica, estimulando a participação ativa dos alunos na produção do conhecimento.
Para a educadora, os encontros também são uma oportunidade para conhecer outras pessoas, conversar e trocar experiências. “Reconheço que ainda há muito preconceito em relação à velhice, incluindo abandono e maus tratos com as pessoas idosas. Ainda há um longo caminho pela frente. Porém, por meio do meu trabalho, consigo ajudar as pessoas a entender que o envelhecimento faz parte do processo natural da vida”, conclui Wanda Patrocínio, agraciada com o selo ABG de Excelência de Serviço ao Idoso, da Associação Brasileira de Gerontologia, em 2022, pelo trabalho desenvolvido na área do envelhecimento.